
Andando por Beagá, percebemos uma série de ruas e avenidas que homenageiam figuras históricas: Alvarenga Peixoto, Antônio Carlos, Getúlio Vargas… A grande maioria, se formos reparar, fazem referência a homens. E onde estão as ruas com nomes de mulheres?
De acordo com um levantamento da agência Gênero e Número, quase 50% das ruas belo-horizontinas carregam o nome de homens, contra menos de 20% de mulheres. O número é menor ainda do que endereços que não referenciam pessoas específicas: aproximadamente 40% dos logradouros homenageiam Estados, países ou etnias indígenas.
Neste 8 de março, vamos relembrar a presença feminina em Belo Horizonte. Conheça agora cinco mulheres que dão nome às ruas (e não apenas!) da capital.
Rua Bárbara Heliodora (Lourdes)
Bárbara Heliodora (1759 – 1819) foi uma poetisa e ativista política, nascida em São João del-Rei (MG) durante o Brasil Colônia. Casada com o inconfidente Alvarenga Peixoto, ela também teve influência nos planos da Inconfidência Mineira.
Não há provas históricas de que a poetisa participou do movimento, no entanto, boa parte dos encontros ocorria em sua casa. Historiadores supõem, portanto, que ela era a única mulher a participar das reuniões.
Com a descoberta do movimento pelos portugueses, Alvarenga Peixoto foi preso e sentenciado ao exílio em Angola, onde veio a falecer. Bárbara Heliodora não foi condenada e permaneceu no Brasil com os filhos do casal. Ela se mudou para o sul de Minas, onde manteve negócios de agricultura e mineração.
Rua Marília de Dirceu (Lourdes)
A próxima das ruas com nomes de mulheres também faz referência a uma musa da Inconfidência Mineira. Maria Joaquina Dorotéia Seixas (1767 – 1853) vivia em Vila Rica, atual Ouro Preto, quando conheceu o poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga. Ela tinha apenas quinze anos, e o poeta, trinta e oito.
Ambos noivaram em 1798, quando Maria Joaquina tinha vinte e dois anos. No mesmo ano, porém, a Inconfidência Mineira foi reprimida e Tomás Antônio Gonzaga, assim como seu colega Alvarenga Peixoto, foi preso condenado ao exílio em Moçambique. Maria Joaquina nunca mais se casou, vivendo reclusa em Vila Rica até a morte, aos oitenta e oito anos.
Durante o exílio, Tomás Antônio Gonzaga escreveu sua obra prima: Marília de Dirceu. A história conta a paixão entre dois pastores, Dirceu e sua amada, Marília. Apesar de jamais confirmado pelo autor, estudiosos especulam que a personagem Marília teria sido inspirada na noiva do poeta. Dessa forma, a rua Marília de Dirceu mantém o amor de Tomás Antônio Gonzaga e Maria Joaquina imortalizado pelos quarteirões do Lourdes, bairro nobre de BH.
Rua Cássia Eller (Barreiro)
Um dos grandes nomes do MPB, Cássia Eller (1962 – 2001) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu com a família em diversas cidades durante a infância. Uma delas foi Belo Horizonte, onde a cantora morou dos seis aos dez anos.
Aos dezenove, já maior de idade, Cássia Eller voltou sozinha para BH. Ela trabalhou como servente de pedreiro para se manter na capital, até que se mudou para Brasília e passou por diversos outros “bicos” antes de seguir de vez com a carreira musical.
Atualmente, a figura de Cássia Eller é lembrada não só na música, mas em uma rua no bairro Castanheira, região do Barreiro.
Avenida Teresa Cristina (Barreiro, Zona Oeste, Zona Noroeste)
A próxima homenagem não vem por uma rua, e sim uma das avenidas mais importantes da capital. Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias (1822 – 1889), mais conhecida apenas como Teresa Cristina, é a próxima das mulheres homenageadas pelas ruas de Belô. Membro da família real de Duas Sicílias (parte da atual Itália), ela se casou com Dom Pedro II, tornando-se então a imperatriz do Brasil.
Ao se mudar para o Brasil, Teresa Cristina trouxe em seu navio músicos, artistas e estudiosos da Europa, que auxiliaram no desenvolvimento científico e cultural brasileiro. Também foi uma personagem importante nas relações Itália-Brasil, impulsionando a imigração italiana para o nosso país.
Viaduto Helena Greco (Carlos Prates)
Mais uma vez, a homenagem não vem por uma rua, e sim um viaduto. Inicialmente, o elevado que liga o Centro ao Carlos Prates foi nomeado Viaduto Castelo Branco. Em 2014, porém, um projeto de lei renomeou o elevado como Helena Greco, tirando a homenagem de um presidente da ditadura e passando-a para alguém que lutou ativamente contra ela.
Helena Greco (1916 – 2011) nasceu na cidade de Abaeté, no interior de Minas. Se formou em Farmácia pela UFMG e, durante a ditadura, já aos cinquenta anos, participou de inúmeras manifestações contra o regime militar. Ela lutava pelo fim da tortura e da perseguição política da oposição.
Em 1975, ajudou a fundar o Movimento Feminino pela Anistia. Ingressou na carreira política em 1982 e foi eleita para a Câmara Municipal de BH, tornando-se a primeira vereadora mulher de Belo Horizonte. Uma de suas pautas centrais eram os direitos das mulheres, assim como a cidadania e direitos humanos no geral.
Quais outras ruas com nomes de mulheres você conhece por Belo Horizonte?